O desmatamento das florestas brasileiras, em especial da Amazônia, é motivo de preocupação entre os ambientalistas mundiais, não só pela área envolvida como pela biodiversidade local.
Entretanto, é na Mata Atlântica que a devastação demonstrou sua maior eficiência, pois dos 1,1 milhão de km2 que percorriam o litoral brasileiro de norte a sul, restam hoje apenas 7%. A ocupação desordenada da faixa costeira, iniciada logo após o descobrimento, reduziu a mata a pequenas manchas verdes em poucos Estados, notadamente no Sul do País. Apesar de alguns avanços na criação de áreas protegidas e ainda que cada região tenha causas diferentes de desmatamento, a Mata Atlântica continua, de uma forma geral, a sofrer com o assédio de madeireiras, culturas agrícolas, pecuária, especulação imobiliária, palmiteiros, queimadas e com uma técnica ultrapassada de secagem de fumo com lenha retirada da floresta.
Entre o Rio Grande do Sul e o Espírito Santo, foram perdidos 500.317 hectares de matas primárias, entre 1990 e 1995. Só restam em pé 8.182.096 hectares de florestas na Mata Atlântica, excessivamente fragmentadas. A constatação é de um recente estudo realizado pela Fundação SOS Mata Atlântica, Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e Instituto Socioambiental (ISA). Este é o segundo levantamento feito pela SOS Mata Atlântica. O anterior abrangeu o período entre 1985 e 1990 e demonstrou que naquela época restavam apenas 8,8% da mata. Apesar dos decretos restritivos e das campanhas para salvar um dos ecossistemas de maior biodiversidade do planeta, as imagens de satélite mostram um avanço impressionante dos desmatamentos.
Na comparação entre o atual levantamento e o realizado entre 1985 e 1990, verifica-se que o ritmo de devastação da cobertura florestal diminuiu, de 6,5% para 5,7%. Mesmo assim, é um valor excessivo, pois trata-se de um ecossistema que já foi reduzido a apenas 7% do seu tamanho original.
Segundo a Fundação SOS Mata Atlântica, com a velocidade alarmante com que vêm sendo reduzidas suas coberturas originais __ a devastação da Mata Atlântica é duas vezes e meia maior do que a da Floresta Amazônica __ a Mata Atlântica está caminhando em um ritmo descontrolado para a extinção e pode acabar dentro de aproximadamente 50 anos.
Em números absolutos, o Rio de Janeiro é o campeão do desmatamento, com 140.000 hectares derrubados. Em seguida, vem Minas Gerais, com 88.951, Paraná, com 84.609 e São Paulo, com 67.400 hectares devastados (veja o quadro perfil por estado).
Em números relativos, em primeiro vem também o Rio de Janeiro, com o desmatamento de 13,13% de sua área, seguido por Mato Grosso do Sul, com 9,59%, e por Goiás, com 9,10%.
É interessante ressaltar que apesar de em alguns Estados o domínio de Mata Atlântica ser pequeno, os números apresentados não se referem a outros tipos de floresta.
PERFIL POR ESTADO (em hectares)
Mata Atlântica | Mata Atlântica | Desmatamento | ||
Estados | Área em 1990 | Área em 1995 | Área | % |
ES | 409.741 | 387.313 | 22.428 | 5,47 |
GO | 7.119 | 6.471 | 848 | 9,10 |
MS | 43.752 | 39.555 | 4.197 | 9,59 |
MG | 1.214.059 | 1.125.108 | 89.951 | 7,32 |
PR | 1.815.137 | 1.730.528 | 84.609 | 4,66 |
RJ | 1.069.230 | 928.858 | 140.372 | 13,13 |
RS | 535.255 | 508.482 | 28.793 | 5,38 |
SC | 1.729.160 | 1.666.241 | 62.919 | 3,64 |
SP | 1.858.959 | 1.791.559 | 67.400 | 3,62 |
Totais | 8.882.412 | 8.182.095 | 500.317 | 5,76 |
RIO DE JANEIRO É O RECORDISTA EM DEVASTAÇÃO O Estado do Rio detém a triste liderança em dois importantes quesitos: é o Estado campeão absoluto de desmatamento da Mata Atlântica e possui ainda o município com maior desmatamento individual.
De acordo com o diretor da SOS Mata Atlântica, Mário Mantovani, o Governo deveria ficar constrangido com estas notícias, pois, no Rio, a situação está fora de qualquer controle, com uma média de 3,5% ao ano de área devastada. O Estado está com seu controle ambiental falido e o Governo apresenta descaso e desinteresse em aprovar uma legislação mais rigorosa.
Em apenas seis anos (de 1990 a 1995) foram devastados no Rio mais 13,3% da área existente no início da década. Corresponde a 140.372 hectares, contra 85.261 hectares derrubados no período anterior, de 1985 a 1990.
O maior desmatamento individual detectado no novo estudo ocorreu no município de Trajano de Moraes, no Rio de Janeiro. Ali foi perdida uma área total de 7.700 hectares, onde 3.704 hectares eram de floresta contínua em um só local e 4.420 hectares em todo o município. Como na maior parte da região serrana, a mata deu lugar a pastagens. Em Teresópolis, Petrópolis e Nova Friburgo, grandes áreas foram destruídas para a contrução de casas e empreendimentos de veraneio.
O desmatamento das encostas íngrimes do Rio foi uma tendência também verificada em Minas e Espírito Santo, onde pastagens de baixa produtividade e plantações de café estão tomando o lugar das árvores. Além da perda da biodiversidade, tal desmatamento aumenta muito o risco de erosão e desabamentos das encostas.
PARANÁ E SANTA CATARINA DIMINUEM A DERRUBADA
Os dois vilões do desmatamento no estudo de 1985 a 1990 __ Paraná e Santa Catarina __, desta vez dão bom exemplo. No Paraná, os 144.000 hectares devastados caíram para 84.609 hectares entre 1990 e 1995. Em Santa Catarina, a redução foi de 99.000 hectares para 62.919 hectares. A redução demonstrou a importância da pressão da opinião pública e do próprio monitoramento, já que paranaenses e catarinenses assustaram-se ao ser apontados como os vilões no estudo anterior e o impacto refletiu nas ações governamentais e até no judiciário.
Em Santa Catarina, a Procuradoria concedeu uma liminar proibindo os órgãos de fiscalização de emitir licença de desmatamento antes da regulamentação da legislação federal. No Paraná, a legislação restritiva, que proíbe o corte de Mata Atlântica desde 1993, também imobilizou os madeireiros.
Deve-se ressaltar, entretanto, que a floresta densa paranaense só existe agora onde sua exploração não é economicamente viável. Na floresta ombrófila mista, a floresta de araucárias (pinherais), a devastação continua. Do total desmatado no Paraná, 73,8%, ou 58.848 hectares, foram derrubados nestas florestas.
ESPÍRITO SANTO TEM NÍVEIS PREOCUPANTES
No Espírito Santo, o nível de desmatamento preocupa, apesar de os números absolutos serem menos expressivos: 22.428 hectares derrubados entre 1990 e 1995 ou 5,47%. O problema é que a maior parte dos remanescentes está em propriedades privadas e as unidades de conservação no Estado são muito pequenas para preservar a imensa biodiversidade da região.
O Espírito Santo detém o recorde mundial de biodiversidade de espécies arbóreas, com a marca de 476 árvores diferentes identificadas em apenas 1 hectare de floresta. Essa riqueza tende a diminuir com o processo de fragmentação florestal, já que a biodiversidade existe em decorrência de uma grande variabilidade de tipos de solo, de pluviosidade e de altitude, mesmo em áreas vizinhas. Significa que a preservação de uma única área não garante a preservação da biodiversidade e que as matas particulares são imprescindíveis para dar continuidade às Unidades de Conservação.
SÃO PAULO MANTEVE O RITMO DE DESMATAMENTO
Em São Paulo, o ritmo de desmatamento continuou como nos anos anteriores, com 67.400 hectares de mata derrubada, o equivalente a 3,62% do total de florestas primárias. Atualmente, os desmatamentos concentram-se em duas regiões: Pontal do Paranapanema, no oeste, e Vale do Ribeira, no sul.
No Pontal, entre 1994 e 1995, os fazendeiros, preocupados com a reforma agrária, desmataram grandes áreas às pressas para implantar pastagens e mostrar produtividade.
No Vale do Ribeira, com quadro mais crítico, os desmatamentos são provocados por invasões de terra, algumas dentro de parques ecológicos. Alguns invasores embrenham-se mata adentro e vivem de pequenas roças e da extração ilegal de palmito.
A IMPORTÂNCIA DO DETALHAMENTO
Assim como ocorreu no levantamento dos desmatamentos da Amazônia, a nova avaliação da Mata Atlântica também incluiu a classificação por tipo de floresta, detalhamento que é de extrema importância para a elaboração dos planos de ação. Na Mata Atlântica, assim como na Amazônia, a biodiversidade deve-se à diversificação de fisionomias vegetais conforme o tipo de solo, relevo, clima, latitude e longitude.
As imagens de satélite foram cruzadas com os limites municipais, rede hidrográfica e mapa das Unidades de Conservação. O detalhamento revelou que a floresta mais próxima da extinção é a ombrófila mista, enquanto que a mais protegida em parques e estações é a ombrófila densa, a floresta das encostas litorâneas. Foram classificados ainda os desmates na mata estacional semidecidual, estacional decidual e ombrófila aberta. A regeneração só foi computada em estágio avançado, ou seja, mata secundária com árvores adultas e dossel fechado.
Link para fonte do texto aqui.
Eu achei do blog muito interesante pois fala como preserva o meio ambiente...
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